sábado, 3 de janeiro de 2009

Fantástico!

Maurício Kubrusly passa o Natal de prédio em prédio
O repórter conferiu como é a ceia dos porteiros de SP.

No Natal e no Ano Novo, os funcionários dos prédios estão lá, ralando. Pra animar a vida na guarita, sempre aparece um pratinho, enviado por algum morador atencioso.



Ou será que não?


O repórter Maurício Kubrusly passou a noite de Natal na rua, de prédio em prédio, pra conferir a ceia dos porteiros.


A porteira Amanda Roberta trabalha das 21h30 até às 02h na noite de Natal.

Maurício Kubrusly – Que Natal, hein?

Amanda Roberta – É ótimo, né?!

Maurício Kubrusly – Não tem nem um panetone?

Amanda Roberta – Não.

Em Pirituba, um bairro de classe média em São Paulo, o turno dos porteiros dos prédios começa quase sempre às 22h e vai até às 7h. Depois de 16 natais longe de casa, o porteiro José Rodrigues é capaz de nem ser reconhecido se resolver passar a noite em casa.

“O trabalho é a minha casa e a minha casa é o lugar de visitar”, explica o porteiro.

Para todo lado, está o agito das comidinhas para festas. Nas portarias, o cenário é diferente. O porteiro Wilson Franca mostra o presente que ganhou de um morador para levar para a filhinha que só tem dois meses.

“Ontem eu ainda levei uns 20 panetones para casa”, diz Franca.

O porteiro Anísio de Freitas passa o Natal sozinho mesmo. Sem televisão e sem a distração de olhar o movimento do elevador. E sem panetone.

“A única diversão é o radinho. De madrugada quando estou aqui escuto um forrozinho”, revela Freitas.

Saindo de Pirituba, direto para os Jardins, bairro na parte nobre da cidade, é muito difícil, quase impossível, entrar nos prédios mais luxuosos. No máximo, até a portaria e olhe lá.

“Já chegou uma caixinha dos moradores que eles mandam todos os anos e já tenho também vinho para comemorar com a família. Uma senhora acabou de ligar para portaria para me oferecer o vatapá. Eu acabei de comer, dá até para sentir o cheiro. Ela me perguntou se eu gostava de vatapá. Eu respondi: ‘claro, eu sou baiano’”, brinca o porteiro Neivain Nascimento

A segurança é especial até na garagem.

“É uma época mesmo em que nós - que somos católicos – aprendemos a repartir. Principalmente com quem está trabalhando, fazendo a nossa segurança. Então, tem que cuidar bem. Eu estou indo para uma outra festa no prédio porque a da minha mãe já acabou. Aí, eu vou incentivar o pessoal desta festa a mandar uma sobremesa para os porteiros”, avisa a moradora do prédio Daniela Silvestre.
Mas se não aparecer mais nada...

“A marmita que eu tinha feito, eu esqueci dentro do microondas. Se não chegar mais nada, vou ficar só no café mesmo. Aquele café valente, que vem desacompanhado”, afirma Neivan.

Voltando para Pirituba. O porteiro Marco Antônio janta antes de sair de casa. Mas garante uma segunda rodada do jantar durante o horário de trabalho.

Às vezes, o porteiro apenas vê a passagem do banquete.

Maurício Kubrusly – Você deixou alguma coisa para os porteiros que vão virar a noite trabalhando no Natal?

Moradora - Já demos. O ano inteiro a gente dá coisa para eles.

Maurício Kubrusly – Mas e na noite em que eles vão trabalhar até às 07h da manhã? Sobrou alguma coisa?

Moradora - Deve ter.

Maurício Kubrusly – Então, eu vou chamar os porteiros para pegar alguma coisa para eles.

Um morador diz que tem panetone.

“Eu já enjoei. Já comi panetone no café e no almoço. É duro, mas a gente acostuma”, admite o porteiro Isaias Menezes.

Mais uma família sai para uma festa em outro lugar.

“Certamente a minha mãe vai trazer uma parte da ceia para o porteiro. Com certeza. Pode procurar a minha mãe, Dona Helena, no apartamento 65. Ela vai mandar uma ceia caprichada para ele”, aposta o gerente administrativo Sérgio Gomes.

Maurício Kubrusly liga para cobrar. E lá vem Dona Helena.

“Cadê o meu filho que só inventa sacanagem para o meu lado? Mas não tem problema não. Se o porteiro quisesse almoçar todo dia, eu faço almoço e todo dia ele come”, explica Dona Helena.

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